A Ucrânia está uma doideira. Eu e tantos leitores da coluna estamos lendo de forma adoidada sobre a crise. Gurus, kremlinólogos, crimeialogos e consultores de risco disparam as análises mais variadas e desenham os cenários mais criativos. Antes de tudo, vamos tranquilizar os foliões, tanto os literais, como os intelectuais. Em Sebastopol e Simferopol, não está começando a Terceira Guerra Mundial. A encrenca é enorme, mas muito menor do que uma Sarajevo, estopim da primeirona há 100 anos.
Em termos morais, o que Vladimir Putin está fazendo é indefensável, mas os ucranianos não têm como se defender. A revolução em Kiev, consumada com a fuga do palácio do avestruz Viktor Yanukovich, mexeu com o nosso homem em Moscou, o urso. Eu volto à citação do historiador Timothy Garton Ash de que sem a Ucrânia a Rússia não é um império e, assim, com o perdão do trocadilho infame, Putin se torna um Putinho.
Podemos até dizer que estamos em uma Guerra Fria 2.0, mas ela sofreu um downgrade. O megaguru Ian Bremmer (do grupo Eurasia) observa que a Rússia não importa como costumava no cenário global. Na verdade, grande parte do problema é o fato de ser um poder declinante. E não há jeito de convencer o nosso homem em Moscou desta realidade. Outro problema, ainda mais grave, é a posição diplomática mais fraca dos EUA. Barack Obama já está convencido disso.
Quanto ao miniguru do Instituto Blinder & Blainder, ele perde um pouco o rumo devido ao ritmo vertiginoso dos acontecimentos. É o rascunho da história sendo escrito e reescrito a todo momento. No entanto, o miniguru acredita que o controle da Crimeia (naturalmente russa) é missão essencial e visceral para Putin. Ele precisa de um governo camarada em Kiev (até menos ladrão e truculento do que Yanukovich) e fará o que puder para alcançar seu objetivo, mas não despachando os tanques para a capital ucraniana.
Nosso homem em Moscou não tem bala, ao contrário do que sacam a musa da coluna, Julia Ioffe, e outros analistas, para sequer invadir o leste da Ucrânia, a banda russa do país. Concordo com o pessoal do grupo Eurasia nesse sentido. Na expressão de uma recente avaliação de seus analistas, o “custo, risco e responsabilidades desta ação são provavelmente muito altas para ser a primeira opção de Moscou”.
Erros de cálculo, descontrole e provocações de vários atores podem levar a este desfecho perigossísimo. Até as eleições ucranianas de 25 de maio, o grupo Eurasia estima em 40% a chance de uma invasão russa do leste da Ucrânia. Algum tipo de absorção da Crimeia por Putin seria, well, absorvido pelo Ocidente. Além, não dá para encarar.
O Instituto B & B é ruim de números. Não vai colocar uma estatística, mas ainda projeta algum arranjo para a desescalada da crise nos próximos dias, fruto dos limites das ambições de Putin e das pressões do Ocidente para dar um tempo na doideira. Se eu estiver errado, a culpa é do nosso homem em Moscou e de algum megaguru.
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